segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sócrates e seu Daimon


Sócrates com uma Musa

Orphic Hymn 73 to the Daemon :
"To the Daimon [Zeus]. Thee, mighty ruling Daimon dread, I call, mild Zeus, life-giving, and the source of all: great Zeus, much wandering, terrible and strong, to whom revenge and tortures dire belong. Mankind from thee in plenteous wealth abound, when in their dwellings joyful thou art found; or pass through life afflicted and distressed, the needful means of bliss by thee suppressed. 'Tis thine alone, endued with boundless might, to keep the keys of sorrow and delight. O holy blessed father, hear my prayer, disperse the seeds of life-consuming care, with favouring mind the sacred rites attend, and grant to life a glorious blessed end."


(...)
"Sócrates revelou a Platão que a influência do daemon sobre ele havia sido “colocado sobre mim pela Divindade, pelos oráculos, pelos sonhos e por todos os outros meios pelos quais os decretos divinos são transmitidos ao homem”. Ou seja, havia diversas formas do seu daemon se manifestar, seja através dos oráculos, dos sonhos e por outros meios. Foi no famoso Oráculo de Delphos que Sócrates leu a frase que ecoaria sagrada mesmo muitos séculos depois “Oh Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”. Parece que Sócrates gostava de freqüentar os oráculos e retirar deles o néctar de sabedoria. Na obra Simpósio, Sócrates menciona a Platão que foi a Sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. Parece que os ensinamentos da sacerdotisa estão no cerne do conceito platônico de amor.
As orientações do daemon se confirmaram verdadeiras em várias ocasiões, tal como é relatado pelos seus discípulos. Certa vez, Sócrates conhecia um rapaz chamado Charmines, que estava pronto para participar de uma competição esportiva. Sócrates advertiu Charmines que não participasse do evento, pois uma voz o havia informado que algo ruim iria ocorrer. Mas Charmines, ignorando os apelos de Sócrates, resolveu competir. Durante os jogos sofreu uma séria lesão. Em outra ocasião, Timarco estava bebendo com Sócrates e logo depois iria cometer um assassinato. Sócrates disse a Timarco que não fosse, pois seu daemon o havia informado que isso lhe traria algum infortúnio. Mas Timarco saiu e logo em seguida foi morto.
Uma situação engraçada que ocorreu, com a ajuda do seu daemon, é relatada por Plutarco, um historiador antigo. Certa vez, enquanto caminhava junto com os discípulos num campo, Sócrates subitamente parou de andar, por causa do aviso que recebeu de seu daemon para que se detivesse onde está e não continuasse. Os discípulos prosseguiram em sua caminhada, mesmo com Sócrates parado. Logo, logo, eles foram cercados por uma vara de porcos enlameados. Eles ficaram todos sujos de lama e retornaram ao mestre rindo.
Sócrates foi finalmente condenado a morte no ano 399 A.C., num julgamento onde Sócrates foi injustamente acusado de “corromper a juventude”, “não adorar os deuses” e “violar as leis da sociedade ateniense”. Após a condenação, foi obrigado a tomar uma bebida chamada de Sicuta, um veneno que o levaria a morte. Sócrates fez uma admirável e digna defesa, mas o daemon não falou absolutamente nada durante todo o tempo. Sócrates assim explicou o que ocorreu:
“Até hoje, o oráculo familiar, no meu interior (o daemon), sempre se opôs a mim, até mesmo em questões insignificantes, quando eu estava para cometer um engano. Mas agora, como vocês podem ver, estou face a face com aquilo que geralmente se acredita ser o derradeiro e pior mal. No entanto, a voz não me deu sinal de oposição, nem quando deixei minha casa esta manhã nem quando entrei no tribunal. Ela permaneceu calada enquanto eu falava e ante tudo o que eu pretendia dizer. Em outras ocasiões, ela me fez parar até no meio de um discurso. Agora, porém, ela não se opôs a nada do que eu disse ou fiz nesse assunto. Como posso explicar isso? Deixem-me dizer-lhes: considero o seu silêncio como uma aprovação do que estou dizendo. Os sinais costumeiros, por certo, opor-se-iam a mim, estivesse eu caminhando em direção ao mal, melhor do que ao bem. Meu fim, que se aproxima, não está acontecendo por acaso. Vejo, muito claramente, que morrer e pela morte ser libertado será melhor para mim; e, por isso mesmo, o oráculo não me deu nenhum sinal.” "

Fonte do texto: http://hugolapa.wordpress.com/2010/01/07/o-daemon-de-socrates/
Autor: Hugo Lapa