domingo, 10 de junho de 2012

Thor vai a Jotunheim

A viagem de Thor a Jotunheim

     Um belo dia, Thor, o deus do trovão, resolveu sair a viagem rumo ao Jotunheim (país dos gigantes); recebendo a companhia de seu criado Tialfi (o veloz) e de se irmão Loki.
    Quando a noite chegara, se encontravam em uma densa floresta, e então, passaram a procurar um lugar para dormir. Encontraram uma espécie de caverna, repleta de bifurcações. Ao fim, examinaram todo o perímetro, e viram que ali era um local seguro para passar a madrugada. Porém, em uma parte da noite, foram acordados por um tremor, acompanhado de um rugido ensurdecedor. O silêncio se seguiu, e todos voltaram a descansar.  
     Na manhã seguinte, ao sair da caverna descobriram que havia um gigante dormindo ali perto. Loki estava receoso e disse para partirem antes que ele acordasse. Porém, infelizmente, o gigante conseguiu escutar as vozes dos deuses; despertou e levantou bruscamente dizendo:
      - Quem são vocês e porque estão aqui?!
     - Meu nome é Thor, e venho acompanhado por Tialfi e Loki, rumo a Jotunheim! - disse o deus do Trovão empunhando o Mjölnir.
Porém, o desconhecido não lhe dava muita atenção, parecendo que estava preocupado em achar algo.
     -Ah! Finalmente achei minha luva! - exclamou ele pegando do chão o que seria a caverna em que os deuses passaram a noite.
     O gigante se identificou com Skrymir, e sugeriu que todos continuassem a viagem juntos, pois compartilhavam de um mesmo destino. 
     Ao perceber que todos carregavam previsões, Skrymir juntou as mochilas junto à dele; e conforme a jornada continuava, Thor e seus companheiros passaram fome, até pararem ao anoitecer para descansar. Assim, o gigante, quase dormindo, disse que poderiam pegar comida em sua mochila. Thor ficou extremamente furioso por não conseguir desatar o nó da mochila, e pensando que Skrymir estava caçoando de suas caras, pegou seu martelo e bateu com toda a sua força na testa do gigante. Este acordou e fez uma pequena observação:
     - Oh! Acho que tem um ninho nesta árvore  em que repouso embaixo, pois acaba de cair um filhotinho em minha testa. - e voltou a dormir.
Inconformado, Thor desfechou outro golpe na cabeça do indesejado. Porém, acordou novamente exclamando:
     - Caramba! Desta parece que uma noz caiu em minha cabeça!
     Os outros deuses, observando a cena, ficaram boquiabertos, e temerosos que a ira do deus do Trovão se voltasse contra eles. Este, decidiu ir dormir, e, pela manhã, já descansado, daria um último e definitivo golpe no gigante. Ao amanhecer, levantou e, mesmo com muita fome, juntou  todas as suas forças e golpeou tão ferozmente Skrymir, que o Mjölnir entrou até o cabo na em sua cabeça.
     - Mas que tormento! Parece que desta vez um pássaro fez titica na minha cabeça... Que audácia! - praguejou o gigante se levantando para partirem - Vamos nanicos! Jotunheim já está próxima. Só digo-lhes uma coisa: tomem cuidado na cidade, pois lá conhecerão os verdadeiros gigantes!
     E assim caminharam até uma encruzilhada, quando Skrymir se despediu, deixando Thor, Loki e Tialfi seguirem em frente, sem antes deixar de advertir-lhes:
     - Sigam o meu conselho: não sejam arrogantes. Os moradores de Jotunheim não gostam de forasteiros presunçosos assim, principalmente Utgard-Loki. - E despediu-se, seguindo para o norte, enquanto os três iam para leste.
****
     Após uma longa caminhada, o palácio de Utgard-Loki já podia ser visto, porém, ao chegarem aos portões de Jotunheim, os viajantes encontraram um pequeno problema: não conseguiam empurrar os enormes portões. Felizmente, acharam uma fenda pela qual entraram na cidade. Penetraram no palácio, e logo escutaram as vozes dos gigantes que ali estavam. Chegando a sala em que todos se encontravam, Thor tratou logo de se anunciar, atingindo um banquinho com seu Mjölnir.

     - Atenção! Eu sou Thor, o deus do trovão e matador de gigantes!
     - Ora, vejam só! - disse Utgard-Loki - Vamos testar então a veracidade de suas palavras pequenino deus! Afinal, aqui só permanecem aqueles que conseguem se destacar de alguma forma. Bom... o que você e seus companheiros sabem fazer de melhor?

     - O que mais sei fazer com perfeição é comer mais depressa do que qualquer outra pessoa! E desafio qualquer um a competir comigo! - exclamou Loki pondo-se à frente.
     - Pois bem. Eu aceito o desafio. - disse o gigante sentado na extremidade de um banco, chamado Logi.
     Assim, foram colocados um recipiente para cada desafiante, cheio de carne. A disputa começou, e os dois comiam o mais rápido que podiam. Loki percebeu que ele e seu concorrente estavam no meio do recipiente, porém, enquanto o deus comia apenas a carne, o gigante comia os ossos e tudo. Então todos proclamaram Logi como campeão.
     - E você nanico? - perguntou Utgard-Loki se referindo a Tialfi - O que sabes fazer de melhor?
     - Senhor, se possuo alguma virtude, é com certeza a de ser o mais veloz entre os humanos. - respondeu o servo.
     - Deixe este pequeno comigo! - disse Hugi, o gigante mais veloz ali presente.
     Foi dada a largada, e por mais veloz que Tialfi fosse, Hugi já estava bem a frente, alcançando-o por trás. Correram mais uma vez, porém o servo de Thor não foi melhor sucedido.
     - E agora Thor? O que você pode demonstrar para provar a fama que tem? - disse o rei dos gigantes se virando para o deus do Trovão.
     - Eu desafio qualquer um para uma prova de bebida, - esbravejou o deus.
     Então Utgard-Loki pediu que trouxessem uma grande drinking horn que os seus seguidores eram obrigados a esvaziar quando cometiam delitos durante os festins. Somente os bons bebedores esvaziam-na em um gole, embora a maioria dos homens fizessem isso em dois goles, e somente os fracos em três. O chifre, embora comprido, não era algo totalmente descomunal, e Thor pôs-se a virar-lo com gosto. Bebeu o máximo que pode, resistindo bravamente, e quando percebeu que não aguentaria mais, afastou o recipiente de seus lábios tomando um susto ao perceber que pouco havia diminuído em seu interior. 
     Respirou fundo, e tentou novamente, com mais força que antes, porém, ao verificar o conteúdo da drinking horn, viu que bebera menos ainda. Então Utgard-Loki disse:
     - Thor, deves acabar com toda a bebida neste ultimo gole, senão provará que não é tão forte assim aqui quanto és em tuas terras.
     Furioso, o deus fez de tudo para conseguir matar em um gole o restante do liquido. Mas, como já era esperado, pouca coisa mudou na quantidade da vasilha. Assim, entregou-o para o copeiro do rei.

     - Agora podemos dizer que você não é tudo aquilo que dizia, e até mesmo o que nós julgávamos que fosse. - zombou o rei - Mas, como tu és uma divindade muito respeitada, te darei mais uma chance. Tragam aqui meu gato de estimação! Thor, você terá levantá-lo apenas. Esta é uma tarefa que só as crianças fazem, mas, como já provaste tua fraqueza, creio que isto deva lhe cair melhor.
     Thor se aproximou do gato, tentando deixá-lo menos arisco. Então, quando ele se aproximou, o deus o envolveu em seus braços, fazendo de tudo para levantá-lo, porém, a unica coisa que levantou, e com muito esforço, foi uma de suas patas.

     Por fim, todos caçoaram muito dos três, principalmente de Thor, que foi xingando de fracote, e de muitos outros adjetivos. Sedento de raiva, lançou seu ultimo desafio: desafiou a qualquer um lutar contra ele. Utard-Loki tratou de dizer que em Jotunheim, somente os fortes lutam contra os fortes, mas, que faria algo por Thor. Chamou uma velha criada, com o nome de Elli, para lutar contra o deus. A giganta anciã, ao saber que iria combater, logo tratou de arregaçar as mangas e a se preparar. A luta começou. Thor arremessou a velha, ainda com certo cuidado, já que não queria maltrata-la. Mas, para sua surpresa, ela se esquivou de seu ataque, recuperando-se de tal maneira, que logo em seguida aplicou-lhe uma chave de braço, obrigando o deus a se render.
 
     E as disputas acabaram ai. Thor, Loki e Tialfi, muito humilhados, ainda passaram a noite no palácio, e despertaram ao raiar do sol para partir. Utgard-Loki os acompanhou até o portão, e disse:
     - Espero que tenham sido bem recebidos aqui!
     - Na verdade, acho que nunca fui tão humilhado em toda a minha vida! - exclamou Thor.
     - Bem... agora que vocês já estão do lado de fora da cidade, posso lhes contar o que realmente ocorreu.
     Os três olharam para o gigante confusos, e aguardaram a seguinte explicação:
     - Perdoem-me, pois, se soubesse que eram tão fortes e valentes, nunca os deixaria entrar aqui, já que, desde o começo, venho utilizando minhas artimanhas. A primeira delas foi na floresta, quando amarrei a mochila com arame, impedindo que vocês a desamarrassem.
     - Você???!!! - exclamou Loki.
     - Sim. Eu era o Skrymir. E tive a sorte de conseguir engana-lo Thor. No momento em que você desferiu os golpes com o martelo, eu habilmente me escondi em baixo da terra, fazendo com que atingisse nada mais , nada menos que as montanhas - disse apontando para a direção onde se encontravam os grandes montes com enormes fendas produzidas pelas pancadas. - Assim, vocês foram enganados em todas a disputas. O adversário de Loki era na verdade o Fogo, que consome tudo aquilo que está sob suas chamas; enquanto Tialfi correu contra o Pensamento, sendo impossível qualquer um correr mais do que ele. E você Thor, poderia acabar com o liquido do chifre, se este não estivesse ligado à outra ponta do oceano; mas mesmo assim, perceba que o nível do mar está muito mais baixo. E o gato era a serpente de Midgard, aquela que dá a volta na Terra, e ficamos espantados ao ver que conseguia levanta-la acima do chão. Quanto a mais infame das derrotas, contra a velhota Elli, que é a própria Velhice, da qual não se consegue vencer jamais em tempo algum. Muito bem, agora me despeço, e aconselho nunca mais tentar duelar contra mim, pois sempre usarei de meus truques, não valendo a pena, já que não adquirirá fama nenhuma. - e voltou-se para dentro.
     Thor estava tão furioso por ter sido feito de bobo, que se preparou para desfechar um terrível golpe com o Mjölnir, porém, quando se deu conta, não havia mais castelo e nem gigante, apenas uma vasta planície; tudo desaparecera como mágica.