A viagem de Thor a Jotunheim
Um belo dia, Thor, o deus do trovão, resolveu sair a viagem rumo ao
Jotunheim (país dos gigantes); recebendo a companhia de seu criado
Tialfi (o veloz) e de se irmão Loki.
Quando a noite chegara, se encontravam em uma densa floresta, e
então, passaram a procurar um lugar para dormir. Encontraram uma espécie
de caverna, repleta de bifurcações. Ao fim, examinaram todo
o perímetro, e viram que ali era um local seguro para passar a
madrugada. Porém, em uma parte da noite, foram acordados por um tremor,
acompanhado de um rugido ensurdecedor. O silêncio se seguiu, e todos
voltaram a descansar.
Na manhã seguinte, ao sair da caverna descobriram que havia um gigante dormindo ali perto. Loki estava receoso e disse para partirem antes que ele acordasse. Porém, infelizmente, o gigante conseguiu escutar as vozes dos deuses; despertou e levantou bruscamente dizendo:
Na manhã seguinte, ao sair da caverna descobriram que havia um gigante dormindo ali perto. Loki estava receoso e disse para partirem antes que ele acordasse. Porém, infelizmente, o gigante conseguiu escutar as vozes dos deuses; despertou e levantou bruscamente dizendo:
- Quem são vocês e porque estão aqui?!
- Meu nome é Thor, e venho acompanhado por Tialfi e Loki, rumo a Jotunheim! - disse o deus do Trovão empunhando o Mjölnir.
Porém, o desconhecido não lhe dava muita atenção, parecendo que estava preocupado em achar algo.
-Ah! Finalmente achei minha luva! - exclamou ele pegando do chão o que seria a caverna em que os deuses passaram a noite.
O gigante se identificou com Skrymir, e sugeriu que todos continuassem a viagem juntos, pois compartilhavam de um mesmo destino.
Ao perceber que todos carregavam previsões, Skrymir juntou as
mochilas junto à dele; e conforme a jornada continuava, Thor e seus
companheiros passaram fome, até pararem ao anoitecer para descansar.
Assim, o gigante, quase dormindo, disse que poderiam pegar comida em sua
mochila. Thor ficou extremamente furioso por não conseguir desatar o nó
da mochila, e pensando que Skrymir estava caçoando de suas caras, pegou
seu martelo e bateu com toda a sua força na testa do gigante. Este
acordou e fez uma pequena observação:
- Oh! Acho que tem um ninho nesta árvore em que repouso embaixo,
pois acaba de cair um filhotinho em minha testa. - e voltou a dormir.
Inconformado, Thor desfechou outro golpe na cabeça do indesejado. Porém, acordou novamente exclamando:
- Caramba! Desta parece que uma noz caiu em minha cabeça!
Os outros deuses, observando a cena, ficaram boquiabertos, e
temerosos que a ira do deus do Trovão se voltasse contra eles. Este,
decidiu ir dormir, e, pela manhã, já descansado, daria um último e
definitivo golpe no gigante. Ao amanhecer, levantou e, mesmo com muita
fome, juntou todas as suas forças e golpeou tão ferozmente Skrymir, que
o Mjölnir entrou até o cabo na em sua cabeça.
- Mas que tormento! Parece que desta vez um pássaro fez titica na
minha cabeça... Que audácia! - praguejou o gigante se levantando para
partirem - Vamos nanicos! Jotunheim já está próxima. Só digo-lhes uma
coisa: tomem cuidado na cidade, pois lá conhecerão os verdadeiros
gigantes!
E assim caminharam até uma encruzilhada, quando Skrymir se despediu,
deixando Thor, Loki e Tialfi seguirem em frente, sem antes deixar de
advertir-lhes:
- Sigam o meu conselho: não sejam arrogantes. Os moradores de
Jotunheim não gostam de forasteiros presunçosos assim, principalmente
Utgard-Loki. - E despediu-se, seguindo para o norte, enquanto os três
iam para leste.
****
Após uma longa caminhada, o palácio de Utgard-Loki já podia ser
visto, porém, ao chegarem aos portões de Jotunheim, os viajantes
encontraram um pequeno problema: não conseguiam empurrar os enormes
portões. Felizmente, acharam uma fenda pela qual entraram na cidade.
Penetraram no palácio, e logo escutaram as vozes dos gigantes que ali
estavam. Chegando a sala em que todos se encontravam, Thor tratou logo
de se anunciar, atingindo um banquinho com seu Mjölnir.
- Atenção! Eu sou Thor, o deus do trovão e matador de gigantes!
- Ora, vejam só! - disse Utgard-Loki - Vamos testar então a
veracidade de suas palavras pequenino deus! Afinal, aqui só permanecem
aqueles que conseguem se destacar de alguma forma. Bom... o que você e
seus companheiros sabem fazer de melhor?
- O que mais sei fazer com perfeição é comer mais depressa do que
qualquer outra pessoa! E desafio qualquer um a competir comigo! -
exclamou Loki pondo-se à frente.
- Pois bem. Eu aceito o desafio. - disse o gigante sentado na extremidade de um banco, chamado Logi.
Assim, foram colocados um recipiente para cada desafiante, cheio de
carne. A disputa começou, e os dois comiam o mais rápido que podiam.
Loki percebeu que ele e seu concorrente estavam no meio do recipiente,
porém, enquanto o deus comia apenas a carne, o gigante comia os ossos e
tudo. Então todos proclamaram Logi como campeão.
- E você nanico? - perguntou Utgard-Loki se referindo a Tialfi - O que sabes fazer de melhor?
- Senhor, se possuo alguma virtude, é com certeza a de ser o mais veloz entre os humanos. - respondeu o servo.
- Deixe este pequeno comigo! - disse Hugi, o gigante mais veloz ali presente.
Foi dada a largada, e por mais veloz que Tialfi fosse, Hugi já
estava bem a frente, alcançando-o por trás. Correram mais uma vez, porém
o servo de Thor não foi melhor sucedido.
- E agora Thor? O que você pode demonstrar para provar a fama que
tem? - disse o rei dos gigantes se virando para o deus do Trovão.
- Eu desafio qualquer um para uma prova de bebida, - esbravejou o deus.
Então Utgard-Loki pediu que trouxessem uma grande drinking horn que
os seus seguidores eram obrigados a esvaziar quando cometiam delitos
durante os festins. Somente os bons bebedores esvaziam-na em um gole,
embora a maioria dos homens fizessem isso em dois goles, e somente os
fracos em três. O chifre, embora comprido, não era algo totalmente
descomunal, e Thor pôs-se a virar-lo com gosto. Bebeu o máximo que pode,
resistindo bravamente, e quando percebeu que não aguentaria mais,
afastou o recipiente de seus lábios tomando um susto ao perceber que
pouco havia diminuído em seu interior.
Respirou fundo, e tentou novamente, com mais força que antes, porém,
ao verificar o conteúdo da drinking horn, viu que bebera menos ainda.
Então Utgard-Loki disse:
- Thor, deves acabar com toda a bebida neste ultimo gole, senão
provará que não é tão forte assim aqui quanto és em tuas terras.
Furioso, o deus fez de tudo para conseguir matar em um gole o
restante do liquido. Mas, como já era esperado, pouca coisa mudou na
quantidade da vasilha. Assim, entregou-o para o copeiro do rei.
-
Agora podemos dizer que você não é tudo aquilo que dizia, e até mesmo o
que nós julgávamos que fosse. - zombou o rei - Mas, como tu és uma
divindade muito respeitada, te darei mais uma chance. Tragam aqui meu
gato de estimação! Thor, você terá levantá-lo apenas. Esta é uma tarefa
que só as crianças fazem, mas, como já provaste tua fraqueza, creio que
isto deva lhe cair melhor.
Thor se aproximou do gato, tentando deixá-lo menos arisco. Então,
quando ele se aproximou, o deus o envolveu em seus braços, fazendo de
tudo para levantá-lo, porém, a unica coisa que levantou, e com muito
esforço, foi uma de suas patas.
Por fim, todos caçoaram muito dos três, principalmente de Thor, que
foi xingando de fracote, e de muitos outros adjetivos. Sedento de raiva,
lançou seu ultimo desafio: desafiou a qualquer um lutar contra ele.
Utard-Loki tratou de dizer que em Jotunheim, somente os fortes lutam
contra os fortes, mas, que faria algo por Thor. Chamou uma velha criada,
com o nome de Elli, para lutar contra o deus. A giganta anciã, ao saber
que iria combater, logo tratou de arregaçar as mangas e a se preparar. A
luta começou. Thor arremessou a velha, ainda com certo cuidado, já que
não queria maltrata-la. Mas, para sua surpresa, ela se esquivou de seu
ataque, recuperando-se de tal maneira, que logo em seguida aplicou-lhe
uma chave de braço, obrigando o deus a se render.
E as disputas acabaram ai. Thor, Loki e Tialfi, muito humilhados,
ainda passaram a noite no palácio, e despertaram ao raiar do sol para
partir. Utgard-Loki os acompanhou até o portão, e disse:
- Espero que tenham sido bem recebidos aqui!
- Na verdade, acho que nunca fui tão humilhado em toda a minha vida! - exclamou Thor.
- Bem... agora que vocês já estão do lado de fora da cidade, posso lhes contar o que realmente ocorreu.
Os três olharam para o gigante confusos, e aguardaram a seguinte explicação:
- Perdoem-me, pois, se soubesse que eram tão fortes e valentes,
nunca os deixaria entrar aqui, já que, desde o começo, venho utilizando
minhas artimanhas. A primeira delas foi na floresta, quando amarrei a
mochila com arame, impedindo que vocês a desamarrassem.
- Você???!!! - exclamou Loki.
- Sim. Eu era o Skrymir. E tive a sorte de conseguir engana-lo Thor.
No momento em que você desferiu os golpes com o martelo, eu habilmente
me escondi em baixo da terra, fazendo com que atingisse nada mais , nada
menos que as montanhas - disse apontando para a direção onde se
encontravam os grandes montes com enormes fendas produzidas pelas
pancadas. - Assim, vocês foram enganados em todas a disputas. O
adversário de Loki era na verdade o Fogo, que consome tudo aquilo que
está sob suas chamas; enquanto Tialfi correu contra o Pensamento,
sendo impossível qualquer um correr mais do que ele. E você Thor,
poderia acabar com o liquido do chifre, se este não estivesse ligado à
outra ponta do oceano; mas mesmo assim, perceba que o nível do mar está
muito mais baixo. E o gato era a serpente de Midgard, aquela que dá a
volta na Terra, e ficamos espantados ao ver que conseguia levanta-la
acima do chão. Quanto a mais infame das derrotas, contra a velhota Elli,
que é a própria Velhice, da qual não se consegue vencer jamais em tempo
algum. Muito bem, agora me despeço, e aconselho nunca mais tentar
duelar contra mim, pois sempre usarei de meus truques, não valendo a
pena, já que não adquirirá fama nenhuma. - e voltou-se para dentro.
Thor estava tão furioso por ter sido feito de bobo, que se preparou
para desfechar um terrível golpe com o Mjölnir, porém, quando se deu
conta, não havia mais castelo e nem gigante, apenas uma vasta planície;
tudo desaparecera como mágica.